Nada Sobre Nós? Então Por Que Nunca É Com a Gente?
Era mais uma manhã abafada na floresta quando o Tucano do Gabinete, plumagem azul-marinho, com bico em formato de microfone, reuniu os animais no Palco da Inclusão. Com uma faixa colorida no fundo e banners de acessibilidade pendurados, ele anunciou:
— “Vamos falar de políticas públicas para animais com deficiência!”
Mas, entre os convidados… nenhum animal com deficiência estava presente.
Silêncio...
Foi então que o Quati Surda, ativista histórica da causa, levantou o casco:
— “Ei, Tucano… vocês sempre falam sobre nós, mas nunca com a gente. A floresta diz "Nada sobre nós sem nós, mas segue escrevendo leis de orelha tapada.”
A plateia se inquietou.
A Arraia Visual, uma das primeiras a acessar o sistema Braille da floresta, comentou:
— “Querem nos dar o direito de trabalhar, mas esquecem do direito de chegar. Cadê a política pública pro transporte, pra calçada, pra sinalização segura?”
O Tamanduá Sem Fala, que se comunica por folhas escritas, mostrou um cartaz:
📄 “Inclusão não começa na vaga. Começa na rua.”
Enquanto os bichos debatiam, o Jabuti Jurídico, guardião da Lei da Floresta, leu em voz alta:
— “Hoje completamos 34 anos da Lei de Cotas. Mas sabem quantos por cento das vagas destinadas a animais com deficiência estão preenchidas?”
Ele ergueu outra folha.
📊 Apenas 53% das vagas previstas pela Lei de Cotas foram efetivamente preenchidas no Brasil em 2023.
📊 Mais de 55% dos trabalhadores com deficiência estão na informalidade.
📊 Em 2024, o desemprego entre pessoas com deficiência chega a ser o dobro do registrado entre pessoas sem deficiência (IBGE).
📊 A maioria das cidades ainda não tem programas locais de empregabilidade para pessoas com deficiência.
Fonte: G1, Folha, Agência Brasil, Diário de Suzano.
A Tartaruga-Autista, especialista em tecnologia assistiva, questionou:
— “Pra onde vão os programas anunciados com tanto entusiasmo? Ficam nas pastas do papel e não chegam nas patas dos bichos?”
O Tamanduá-Técnico, mestre em processos seletivos, completou:
— “Tudo vira evento. Tudo vira foto. Mas quem vive a deficiência sabe que o problema não é só ‘inclusão. É ausência de estrutura.”
Frases Potentes da Selva
Quati Surda: “Não quero palco. Quero política pública que me alcance antes do aplauso.”
-
Arraia Visual: “Não existe mercado de trabalho sem direito de ir e vir. Calçada sem acessibilidade é carta de demissão antecipada.”
-
Tamanduá Sem Fala: “Enquanto a floresta quiser que a gente agradeça por estar ali, nunca seremos parte dela.”
-
Tartaruga-Autista: “A deficiência não nos limita. O que nos trava é a lentidão das políticas feitas sem a gente.”
Análise Final por Antoniel Bastos
“Nada sobre nós sem nós.”
- Bonito no cartaz, bonito no discurso de palco. Mas na prática, é tudo sobre eles sem eles.
- Políticas públicas viraram burocracias públicas.
- Inclusão virou evento de PowerPoint com coffee break.
- Criam editais sem consultar os protagonistas.
- Lançam programas que morrem na assinatura do decreto.
Chamam de projeto o que é, no fundo, abandono bem diagramado.
A floresta está cheia de banners de acessibilidade, mas continua com portões estreitos, algoritmos discriminatórios e calçadas que mais parecem armadilhas.
E quando alguém denuncia, dizem que é "muito militante", "muito sensível", "muito chato". Não. É só alguém cansado de ser invisível.
A cotas faz 34 anos. E ainda são tratadas como favor não como correção histórica.
- Porque inclusão não é sobre aceitar.
- É sobre transformar.
- E transformar só acontece quando quem sente a dor também participa da cura.
Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida.
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