Inclusão de Vitrine ou de Verdade?

 

Selva S.A. em debate aberto sobre os cinco eixos da diversidade e o esquecimento estrutural da pessoa com deficiência

Era mais uma tarde quente na Selva S.A., e os animais estavam reunidos no salão central do Tronco Coletivo. A pauta do dia era um relatório vindo da Savana Varejista, que exibia com orgulho: “Diversidade e Inclusão impulsionam resultados!

A Coruja das Relações Institucionais iniciou a leitura: “Aqui estão os cinco eixos da diversidade: gênero, raça, LGBTQIAPN+, gerações e pessoas com deficiência…”

O Tamanduá-Processual, com sua lente de lupa nas entrelinhas, interrompeu: “Quando chega no eixo da deficiência… o texto muda. Não tem plano, não tem dado. Só uma menção decorativa.”

A Arara-Didática, especialista em treinamentos corporativos, complementou: “Para os outros eixos, metas, KPIs, parcerias com ONU, estratégias ESG. Para nós? Silêncio institucional.”

A Jaguatirica de Inclusão, com prótese na pata traseira e um currículo impecável, desabafou: “Já fui a treinamentos sobre diversidade que sequer mencionaram minha vivência. E nas entrevistas... me olham como se estivessem contratando um problema, não um profissional.”

Debate da Fauna

A Cutia Comunicadora provocou: “Será que inclusão virou só um capítulo do ESG? Um selo de PowerPoint pra bater meta com investidor?”

O Peixe-Piloto de Acessos, que depende de tradução visual e navegação adaptada, questionou: “Cadê o investimento em plataformas acessíveis? Em comunicação inclusiva? Em linguagem simples?”

A Jaburu de Mobilidade, que percorre trilhas com auxílio de exoesqueleto natural, apontou: “A floresta fala em diversidade, mas desenha seus espaços para um único padrão de corpo.”

A Capivara das Políticas Públicas, que acompanha legislações e relatórios de impacto, trouxe dados:

📊 Mais de 14,4 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência (Censo 2022 – IBGE)
📊 Menos de 1% dos cargos formais são ocupados por pessoas com deficiência
📊 55% estão na informalidade, sem proteção legal ou previdenciária
📊 Na maioria das empresas, a pessoa com deficiência é vista como exceção, não como potência

Frases Potentes da Selva

  • Coruja das Relações“Citar é fácil. Incluir é outro voo.”

  • Tamanduá-Processual“Quando a inclusão precisa ser lembrada, é porque ela não está presente.”

  • Jaguatirica de Inclusão“Se a minha deficiência assusta mais do que o meu talento encanta, o problema não sou eu.”

  • Peixe-Piloto de Acessos: “A plataforma é digital, mas a exclusão continua analógica.”

  • Cutia Comunicadora“Diversidade virou tendência. Mas pra ser verdade, tem que ser vivida – não só postada.”

  • Jaburu de Mobilidade“Não há inclusão real em ambientes onde nem a escuta é acessível.”

  • Capivara das Políticas Públicas“A floresta que esquece da deficiência esquece também da equidade.”

Análise Final por Antoniel Bastos

Vivemos em tempos de diversidade de vitrine. Empresas penduram bandeiras. Fazem campanhas com cor. Contratam influenciadores. Criam selos ESG. Mas quando se fala da pessoa com deficiência… o volume abaixa. O entusiasmo evapora. E o capítulo termina antes de começar.

Falam que “inclusão é estratégica”, mas só enxergam o que gera buzz.
A deficiência ainda é um incômodo institucionalizado.
É tratada como um risco jurídico, não como uma inteligência que amplia o negócio.

A verdade nua da selva corporativa é essa:
Criam programas, mas sem escuta.
Abrem vagas, mas sem acessibilidade.
Fazem painéis, mas com mesa só para quem caminha igual.

Inclusão de verdade não cabe em evento.
Ela vive no chão da empresa. Na comunicação interna. No onboarding. No banheiro acessível. No currículo aceito sem preconceito. No processo seletivo que não exclui pela forma de falar, andar ou se expressar.

A pessoa com deficiência não quer aplauso. Quer espaço. Quer estrutura. Quer ser reconhecida como potência não como exceção.

Enquanto o eixo da deficiência for tratado como “menor”, toda a política de diversidade será só fachada pintada com boas intenções.

E mais do que nunca, precisamos gritar:
Nada sobre nós sem nós.
E que esse “nós” seja real, presente, protagonista.
Porque a floresta não será diversa até que todos possam caminhar por ela.

Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida. 

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