A Reunião Internacionalizada da Selva S.A.

 

Como uma floresta tropical se perdeu no LinkedIn

Era uma manhã ensolarada quando o grupo de liderança da Selva S.A. se reuniu para mais uma convenção trimestral no Cipó Hall. A pauta? “Inovações em Gestão de Pessoas para 2025”.

A Onça do Planejamento Estratégico já chegou abrindo os trabalhos:

— “Companheiros, precisamos de uma abordagem mais Agile HR na floresta. Esqueçam o papel, vamos girar squads!”

A Coruja do Clima Organizacional rebateu:

— “Só se garantirmos Psychological Safety! Precisamos de um ambiente seguro para falar até a Lagarta Medroso não tá mais participando!”

O Tamanduá do Recrutamento, todo empolgado, puxou o flipchart:

— “Estamos investindo pesado em Skills-Based Hiring e Neurodiversity Hiring. Já temos vaga aberta para o Tatu-Hiperfocado e a Coruja Noturna-Analítica!”

A Jaguatirica da Inclusão sussurrou para a Tartaruga de TI:

— “Mas será que alguém aqui sabe pronunciar isso sem gaguejar?”

Enquanto isso, o Papagaio de Comunicação Interna repetia em tom solene, mas sem entender nada:

— “Hyperautomation, Reverse Mentoring, Pay Transparency, Quiet Hiring...”

A plateia, composta de capivaras, cutias e jaguatiricas RHizadas, aplaudia.

Debates e Frases Potentes da Fauna

  • Capivara Coordenadora: “Se não tiver Employee Experience, o colaborador desliga e vira Quiet Quitter antes da segunda folha de pagamento.”

  • Jabuti da Governança: “E se não tiver Digital Twin do processo, como vamos validar nosso Reskilling e Upskilling?”

  • Arara da Diversidade: “Temos que garantir Inclusive Leadership! Um líder não-inclusivo é só mais um chefe com crachá bonito.”

  • Cutia de Projetos: “Mas, sinceramente, o que é Talent Fluidity mesmo? Trocar o estagiário de lugar já conta?”

  • Ema das Métricas ESG: “Não adianta Employee Well-being no banner e burnout no expediente.”

Lá no fundo, o Tamanduá Desconfiado cochichava:

— “Falam bonito, mas ainda contratam por amizade e promovem por indicação...”

Os 18 Termos da Gestão de Pessoas Direto da Selva:

  1. Agile HR → RH Ágil

  2. Employee Experience (EX) → Experiência do Colaborador

  3. Reskilling / Upskilling → Recapacitação / Aperfeiçoamento

  4. Talent Analytics → Análise de Talentos

  5. Quiet Hiring → Contratação Silenciosa

  6. Talent Fluidity → Fluidez de Talentos

  7. Skills-Based Hiring → Contratação por Competências

  8. Hyperautomation → Hiperautomação

  9. Digital Twin → Gêmeo Digital

  10. Neurodiversity Hiring → Contratação Inclusiva à Neurodiversidade

  11. Psychological Safety → Segurança Psicológica

  12. Pay Transparency → Transparência Salarial

  13. Inclusive Leadership → Liderança Inclusiva

  14. Employee Well-being → Bem-estar do Colaborador

  15. Hybrid Work → Trabalho Híbrido

  16. Ethical AI in HR → IA Ética em RH

  17. Remote Workforce Enablement → Apoio à Força de Trabalho Remota

  18. Quiet Quitting → Desligamento Silencioso

Análise Final por Antoniel Bastos

Vivemos numa floresta cada vez mais bilíngue… Mas cada vez menos sensível.

Inventaram um dialeto corporativo que mistura Agile com ansiedade, Well-being com burnout, e Pay Transparency com salário escondido. É o RH gourmetizado, onde a estética do termo vale mais que a ética da ação.

Você não é mais um líder. É um Inclusive Leader.
Não capacita pessoas, você reskilla.
Não demite, você faz quiet quitting.
Não planeja, você pivota.

E a floresta aplaude.

  • Fazem post com legenda em inglês, mas ainda chamam pessoa com deficiência de “especial”.
  • Falam em neurodiversidade, mas não sabem adaptar uma dinâmica de grupo.
  • Imploram por “voz ativa”, mas cortam quem discorda no comitê.

A nova floresta não quer transformação quer performance.
Quer parecer que muda, sem precisar trocar de espelho.
E é por isso que Digital Twin virou mais importante que o ser humano real.

Mas a verdade é que essas palavras brilham na tela… e apodrecem na prática.

Porque a selva se acostumou a repetir palavras difíceis para mascarar ações fáceis.
E esquecemos que a verdadeira inovação começa onde termina o inglês: na escuta empática, na rampa construída, na decisão justa, na liderança sem ego.

A selva não precisa de mais jargão.
Precisa de mais gente.
Gente que saiba que gestão não é status é cuidado.
E que o melhor termo em inglês ainda será vazio,
se não for traduzido em atitude.

Essa é a floresta que temos.
Mas ainda dá tempo de reescrever a legenda.

Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida. 

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