A Empregabilidade das Pessoas com Deficiência no Mercado Corporativo
O Chamado da Clareira
Na Selva S.A., o maior ecossistema de trabalho do reino corporativo, uma nova convocação ecoou pelas copas:
“Hoje, a roda será sobre quem nunca foi escutado com verdade.”
A Leoa Diretora, visivelmente incomodada com os dados recentes do TST e CAGED, chamou todos os animais com deficiência para uma roda de conversa inédita: A Empregabilidade na Selva além das cotas, além da campanha, além da pose para foto.
As Vozes Que Precisavam Ser Ouvidas
Tartaruga Estratégica (cadeirante, área de estratégia): “Entrei pela cota. Cresci por competência. Mas ainda preciso pedir rampa todo mês. A Selva fala em avanço, mas não tira o galho da frente.”
Papagaia Librada (surda, comunicação): “Coordeno campanhas nacionais. Mas nas reuniões internas, nunca há legenda. Inclusão que não escuta é só moldura.”
Canguru Logístico (com prótese, liderança): “Assumi um setor inteiro. Mas ouço: ganhou por pena. Meu cargo virou exceção. E meu esforço, invisível.”
Elefanta Analítica (neurodiversa, BI): “Organizada demais. Metódica demais. Ouvi isso da liderança. Se o diferente não é compreendido, não é promovido.”
Flaminga Psicológica (transtorno mental, RH): “Fui modelo da campanha de saúde mental. Mas quando pedi um dia de folga, disseram que eu precisava manter a energia positiva no time.”
Hipopótama Vigilante (mobilidade reduzida): “Meu turno é madrugada. Dizem que ‘ajuda na logística’. Mas nunca foi opção. É imposição camuflada de gentileza.”
Coruja Jurídica (nanismo, jurídica): “Quando falei em cadeira ergonômica, disseram que não era prioridade. Mas semana passada, aprovaram puff para a sala de descompressão.”
Porco-espinho Financeiro (cego, contabilidade): “Uso leitor de tela com excelência. Mas o sistema financeiro ainda me bloqueia. O erro não é meu é do código da Selva.”
📊 Dados Reais da Selva (2022–2025)
📍 Fontes: TST, IBGE, CAGED
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Apenas 0,94% dos vínculos formais envolvem pessoas com deficiência.
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70% estão em cargos operacionais, sem perspectiva de crescimento.
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A Lei de Cotas (8.213/91) exige 2% a 5% de vagas para pessoas com deficiência em empresas com 100+ funcionários mas o cumprimento pleno ainda é exceção.
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As maiores barreiras? Falta de acessibilidade, cultura capacitista, e líderes despreparados.
Frases Potentes da Selva
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“Inclusão sem carreira é só cota com crachá.”
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“Competência sem oportunidade é talento desperdiçado.”
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“Ser acessível no papel e inacessível no processo é a selva maquiada.”
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“O preconceito moderno é polido: sorri, mas bloqueia.”
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“A verdadeira inclusão não se posta. Se vive.”
✅ Estratégias da Selva para Empregabilidade Real
1. Mapeamento e Diagnóstico Inclusivo
Análise interna de barreiras físicas, digitais, culturais e atitudinais.
2. Revisão de Processos Seletivos
Foco nas competências. Triagens sem viés. Etapas acessíveis de verdade.
3. Onboarding Humanizado e Acessível
Acolhimento estruturado, apoio contínuo e tecnologias assistivas desde o início.
4. Formação de Lideranças Empáticas
Treinamento com vivência e feedback, com foco em gestão inclusiva e anticapacitismo.
5. Plano de Carreira com Equidade
Promoções claras, metas possíveis, e liderança diversa com deficiência.
6. Ambientes e Ferramentas Acessíveis
Fim das escadas invisíveis. Acessibilidade arquitetônica, comunicacional e digital.
7. Comunicação Interna Inclusiva
Libras nas reuniões, texto alternativo nos conteúdos, protagonismo real na narrativa.
8. Escuta, Cuidado e Melhoria Contínua
Pesquisas de clima específicas. Comitês de inclusão com poder deliberativo. Canal direto com a direção.
Estilo Arnaldo Jabor – ácido, direto, transformador
A Selva adora dizer que inclui.
Mas o discurso é mais polido que a rampa de acesso.
Na prática, a inclusão ainda é cota sem carreira.
É destaque no dia 21 de setembro e desprezo nos outros 364 dias.
E o pior? Chamam de inclusão o que é, na verdade, só cumprimento de regra.
Chamam de oportunidade o que é, de fato, resistência à diversidade real.
Não há equidade onde só se tolera.
Não há dignidade onde se nega autonomia.
Não há futuro onde a deficiência é barreira para o profissional.
Não queremos compaixão.
Queremos correção.
Não queremos moldura.
Queremos acesso.
Dizem que o Brasil é referência em inclusão.
Mas os números desmentem.
E mais do que os números, são os silêncios.
- Silêncio quando um profissional com deficiência pede acessibilidade e recebe um “vamos ver”.
- Silêncio quando o RH prioriza o “fit cultural” ao invés da adaptação real.
- Silêncio quando se celebra uma vaga inclusiva, mas se nega promoção a quem ocupou com excelência.
E não dá mais para fazer pose na clareira com a alma da floresta acorrentada. A floresta só será completa quando ninguém for deixado do lado de fora da clareira.
Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida.
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