14,4 Milhões de Silêncios: Quem Escuta a Diversidade na Selva S.A.?

 


A floresta se reuniu em assembleia na Selva S.A. para discutir os dados divulgados pelo Censo 2022 do IBGE. A Coruja Censitária, de bico firme, abriu a sessão:

— “São 14,4 milhões de animais com deficiência em nosso país muitos deles invisíveis ao mercado de trabalho.”

A Paca de Planejamento, franzindo a testa, interveio: “E sabem quanto isso representa? Cerca de 6,7% da nossa população gente que vive, aprende, ama... e nem sempre trabalha.”

A Ema de Logística presidente da sessão, destacou: “E a maioria desses animais são mulheres, negras, de biomas periféricos a tal exclusão cruzada. Estamos falando de muitos 'invisibilizados duplamente'.

O Tamanduá-Analista, coçando o focinho, questionou: “E como está a participação no mercado formal? Não me digam que vamos comemorar rampa de bandeira e esquecer da vaga.”

A Tartaruga da Tecnologia, com lente de aumento na folha digital, resumiu:

📊 “Os dados dizem: menos de 1% das vagas formais são ocupadas por pessoas com deficiência, e 55% deles trabalham de forma informal, sem direitos geralmente em bicos.”

Fonte: IBGE (Censo 2022), estudos da UFRGS e FGV Social.

Capivara Comunitária, que coordena redes de convívio e inclusão, perguntou: “Quanto tempo mais vamos postergar a pauta do direito de ir e vir? Calçadas, ônibus adaptados, semáforos sonoros...”

A Coruja Noturna, que precisa sair após o anoitecer, deu sua visão:  “Se a cidade não me escuta à noite, não há vaga que me acolha de dia.”

Arara Educadora, gestora de programas de formação, levantou a voz: “E o ensino? Muitos animais nem chegam à entrevista porque a escola não ofereceu apoio pedagógico.”

🦜 Papagaio da Diversidade, sempre repetindo os pontos-chave: “Repetindo por relevância:

1️) 14,4 milhões
2️) 6,7% da população
3️) Menos de 1% de ocupação formal
4️) 55% na informalidade
5️) Escassez de políticas locais”

Jabuti Jurídico, lírico: “E isso tudo se arrasta enquanto as leis ficam na gaveta ou em discursos de palanque. A Lei de Cotas existe há 34 anos. E quantas florestas já abriram mesmo sem precisar de aplauso?”

Frases Potentes da Selva:

  • Coruja Censitária“Esses 14,4 milhões representam vidas não estatísticas de gabinete.”

  • Paca de Planejamento“Falar em inclusão sem estrutura é domar onça.”

  • Ema de Logística“Política sem piso tá na cara que é palanque, não propósito.”

  • Tamanduá-Analista“Menos formalidade e mais equidade: é disso que precisamos.”

  • Tartaruga da Tecnologia“Algoritmos que excluem são muros travestidos de digital.”

  • Capivara Comunitária“Vaga sem transporte é vaga sem futuro.”

  • Coruja Noturna“Cidade sem escuta noturna é cidade que fecha as portas pra muita gente.”

  • Arara Educadora“Sem apoio desde a escola, caímos na falácia de que queremos igualdade.”

  • Papagaio da Diversidade“Repetir a verdade é ato de revolução.”

  • Jabuti Jurídico“Lei que dorme em gaveta vira lençol de mentira.”


Análise Final por Antoniel Bastos

“Quando a Selva Só Aplaude, Mas Não Anda”

A verdade é crua como o galho seco no chão: O Brasil não tem falta de leis. Tem falta de vontade de cumpri-las.

O IBGE disse: 14,4 milhões de brasileiros com deficiência.
Mas o dado passa como brisa. Vira banner, não estrutura.
Na prática, continuamos sendo um país que empilha números e varre gente.

  • Chamam de “política pública”, mas o que vemos é política de autopromoção.
  • A cada novo programa, um post.
  • A cada nova placa, um vídeo institucional.
  • Mas quando termina o evento, desliga-se o microfone e desliga-se o interesse.

Nada sobre nós sem nós?
A frase virou bordado em seminário.
Mas quem define o edital continua sendo quem nunca viveu o abismo entre o ônibus que não para e a vaga que nunca chega.

A pessoa com deficiência virou vitrine.

  • Virou estatística de impacto.
  • Virou argumento de campanha.
  • Mas nunca foi sujeito da própria história nesse teatro político que chamam de “inclusão”.

Querem nos dar voz… mas desde que seja no tom certo, na hora certa, com sorriso no rosto e sem “mimimi”.

  • Mas não é mimimi, não.
  • É cansaço de décadas.
  • É exaustão de quem vive o ciclo: promessa foto esquecimento.

Inclusão de verdade não se faz com slogan.
Se faz com rampa na calçada. Com intérprete no balcão. Com dignidade no processo seletivo. Com acesso ao básico. Com presença na mesa onde se decide.

E sabe o que é mais triste?
Quando há alguma conquista, ela não vem como direito.
Vem como concessão generosa do sistema como se quem luta por dignidade fosse beneficiado demais.

Não somos exagero. Somos atraso contabilizado. Somos a consequência de uma nação que empilhou decretos e nunca levantou muros com eles.

A floresta vai continuar tropeçando na própria hipocrisia enquanto só enxergar a deficiência… e não enxergar a estrutura que exclui.

Porque o problema não é a falta de braços. É a ausência de pontes.

E enquanto não se constrói ponte, todo dado será só isso: um número bonito demais para caber numa realidade tão feia.

A deficiência não vive na empresa. Vive na calçada esburacada. Vive no ônibus que não para. Vive no algoritmo que te barra. Vive no processo seletivo que não adapta perguntas. Vive na entrevista que julga o corpo, e não avalia a mente.

  • Política pública virou artifício.
  • Vaga inclusiva virou marketing.
  • Cotas virou estatística,
  • mas sem plateia.

Incluir não é enfeitar lei.
É transformar espaço. É mudar porto.
É levantar a pauta antes da vaga porque se não limparmos o caminho, como chega quem precisa?

Os 14,4 milhões de silêncios estão aí pra provar: não falta gente talentosa.
Falta coragem de fazer inclusão de verdade.

  • Dizer que lamentamos não é suficiente.
  • É preciso agir.
  • E agir a fundo com política que vá ao chão, com leis que tenham pernas para andar, e com escuta que não silencia ninguém.

Selva que não escuta a rua, nunca será a casa de todos. E aí, quem vai ousar escutar de verdade?

Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Pessoa com Deficiência e a Farsa do Banquete Diverso

Crônicas da Selva S.A - “Geração Z: Entre o Wi-Fi e a Fuga

Pessoa com Deficiência na Selva S.A.: A Vaga Existe, Mas a Rampa Sumiu