Selva S.A. e o Manual de Inclusão para Inglês Ver
Na floresta da Selva S.A., onde cada folha carrega um KPI e cipós conectam diretórios em rede, o Pavão da Comunicação convocou uma reunião extraordinária:
— “Queridos colaboradores da fauna! Lançamos nosso novo Programa de Inclusão para Pessoas com Deficiência! A selva nunca foi tão diversa!”
Palmas tímidas. Um grilo tossiu.
A Anta do Administrativo, acostumada com promessas bonitas, cochichou:
— “Isso aí tá me cheirando a inclusão pra inglês ver...”
A Tatu Bibliotecária, que não perdia uma chance de contextualizar, esticou o pescoço:
— “Essa expressão vem do século XIX, sabiam? O Brasil assinava leis só pra agradar os britânicos, como o fim do tráfico de escravizados, mas não aplicava nada de fato. Era só pra parecer civilizado aos olhos de fora.”
Silêncio na mata. O Macaco do RH ajeitou a gravata feita de cipó e disse:
— “Mas temos cartaz, vídeo institucional, e uma palestra com a Arara do Instagram!”
A Tartaruga Arquiteta, cadeirante e experiente, perguntou:
— “E rampa? Tem?”
— “Estamos providenciando um estudo para projetar o plano de planejamento do projeto”, respondeu o Macaco, sorrindo.
A Coruja da Estratégia, sobrevoando a cena com uma cópia da nova política da Empresa Selva Logística entre as garras, pousou no centro da clareira e leu em voz firme:
— “Incluir é ir além da lei. É garantir acesso, permanência, pertencimento e progresso. A Empresa Selva Logística entendeu: inclusão é institucional, não ocasional.”
A Girafa da Cultura Organizacional completou:
— “Enquanto vocês tratarem a pessoa com deficiência como exceção a ser tolerada, e não como potência a ser desenvolvida, a floresta continuará andando em círculos.”
A Capivara do Financeiro, prática como sempre, retrucou:
— “Mas essa mudança custa.”
A Arraia, flutuando entre os galhos com elegância, respondeu com tranquilidade:
— “Custa mais continuar excluindo. Custa mais contratar por obrigação e demitir por falta de estrutura. O custo da exclusão é invisível... até estourar nos indicadores.”
Frases da floresta:
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“A cota é o mínimo. Incluir é o máximo e exige ação.” - Coruja
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“Currículo não sobe escada. E competência não floresce sem acesso.” - Tartaruga
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“A deficiência não está no corpo. Está na cultura que não se adapta.” - Arraia
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“Política sem prática é vitrine de vidro sujo: mostra pouco e engana muito.” - Anta
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“Se a inclusão é só pra parecer bonito no relatório, então ela continua sendo só pra inglês ver.” Tatu
Análise final por Antoniel Bastos:
Vivemos em um país onde a beleza do discurso tenta esconder a feiura da prática. Empresas assinam compromissos, lançam programas, colorem logos... mas continuam contratando pela aparência e excluindo pela omissão.
A Empresa Selva Logística está dando uma lição: inclusão é política institucional, com estrutura, avaliação, mudança de cultura. Mas no setor privado? Ainda temos florestas inteiras que confundem “postar sobre inclusão” com incluir de verdade.
Apenas 3% das pessoas com deficiência estão no mercado formal, mesmo com 30 anos da Lei de Cotas. E isso não é coincidência. É resistência velada. É acessibilidade adiada. É inclusão “pra inglês ver” com fundo musical e slide em looping.
A Arraia dessa selva, não faz barulho à toa. Ela age. Treina. Constrói. Escuta. Transforma.
Antoniel Bastos, deixo o alerta:
A floresta pode até repetir que todos são bem-vindos.
Mas, sem estrutura, sem escuta e sem mudança, a vaga continuará sendo só mais uma armadilha de boas intenções. E quem fala em inclusão sem praticar, continua a falar só pra inglês ver.
Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida.
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