Quando a Selva Pira: A Saúde Mental em Extinção

 


Na floresta megaempreendedora “Selva Corporation S.A.”, onde até os cipós tinham Wi-Fi e os pombos eram drones de entrega, o ritmo era alucinante.

O Leopardo do Planejamento Estratégico dormia 4 horas por noite. A Tucana do Marketing fazia três reuniões ao mesmo tempo com um sorriso colado no bico. E o Tamanduá do Financeiro, coitado, vivia com azia e relatórios até na língua.

Mas um dia, no departamento de gente e emoções, a Paca Psicóloga, recém-chegada do Cerrado, levantou a voz:

— “Tem algo errado. Todo dia um bicho diferente desmaia, chora escondido ou trava no meio do expediente. Essa floresta tá surtando!”

Ela trouxe números:
Em 2024, o Brasil teve o maior número de afastamentos por ansiedade e depressão em 10 anos — um aumento de 134%, segundo dados do INSS. Millennials lideraram os afastamentos. Mais de 40% dos trabalhadores até 39 anos saíram por sobrecarga emocional (g1.globo.com).

A floresta se agitou.

A Lontra do Jurídico respondeu:

— “Mas temos a semana do abraço e a fruta livre na copa! Isso não resolve?”

O Gavião do RH, com sua planilha sempre aberta, ironizou:

— “A culpa é da geração nutella. No meu tempo, bicho bom era bicho resiliente!”

Foi quando entrou na sala a Capivara da Operacional, com os olhos fundos e um bilhete de afastamento médico. Ela, que nunca reclamava, falou:

— “Resiliência não é ficar calado enquanto a alma afunda. É pedir socorro antes do colapso.”

Silêncio.

A Onça Coach, meio arrependida, suspirou:

— “Estamos medindo produtividade com réguas do século passado. E a cabeça da equipe... está rachando.”

A Paca, com firmeza, concluiu:

— “Cuidar da mente deixou de ser luxo faz tempo. Saúde mental não é mimo é manutenção da existência.”

Frases de impacto, ditas pelos personagens:

  • “Na selva da pressa, ninguém ouve o grito de quem ainda está sorrindo.” - Capivara

  • “Fruta na copa não cura burnout. Nem abraço de crachá.” - Paca

  • “A floresta ensina a correr, mas esquece que até o rio precisa parar.” - Tamanduá

  • “Ansiedade virou parte do uniforme. E depressão, pauta de feedback.” - Tucana

  • “Quem romantiza a resiliência, normaliza o adoecimento.” - Onça Coach

Reflexão final por Antoniel Bastos:

O Brasil virou uma floresta frenética. Produtividade é idolatria. Parar é fracasso. Chorar? Só se for no banheiro, sem molhar o crachá.

Vivemos a era dos “ambientes tóxicos com cheiro de lavanda”, onde se fala de saúde mental só no Dia do Tema. A cada mês, um animal adoece. E os gestores ainda perguntam: “Mas o que será que está acontecendo?”

O que está acontecendo é simples: as pessoas estão enlouquecendo num sistema que cobra como máquina, mas entrega cuidado como brinde.

Saúde mental não é bônus é base. Não é palestra de uma hora é cultura diária. E se as florestas corporativas não entenderem isso, vão continuar perdendo seus bichos mais brilhantes um surto por vez.

Está na hora de silenciar o ruído e escutar o cansaço.
Porque, no fim, quem não cuida da mente dos seus, um dia vai ver a própria empresa enlouquecer.

Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Pessoa com Deficiência e a Farsa do Banquete Diverso

Quando o Leão Demite o Búfalo: O Colapso Emocional da Selva Corporativa

A Selva da Geração Z: Conectados, Formados e Perdidos no RH do Leão