Pessoa com Deficiência e o Auxílio-Inclusão: O Tesouro Perdido da Selva S.A.
Na exuberante Selva S.A., um novo boato ecoava entre os galhos: o lendário Auxílio-Inclusão havia sido ativado pelo alto conselho da floresta! Um benefício do governo criado para incentivar pessoas com deficiência a ingressarem no mercado de trabalho. Só havia um pequeno detalhe... ninguém conseguia encontrá-lo.
A Tartaruga Analista, metódica e esperançosa, decidiu buscar o tal auxílio. Com todos os documentos nas costas, foi até o Tamanduá do ISS, conhecido por arrastar processos com o focinho.
— Quero solicitar o Auxílio-Inclusão! Comecei a trabalhar e ouvi dizer que teria esse direito!
— Ótimo! — respondeu o Tamanduá — Mas antes, preciso que comprove que já recebeu o BPC. Sem isso, não é possível acessar o benefício.
— Mas eu nunca recebi o BPC, porque sempre tentei me manter ativa, mesmo enfrentando tantas barreiras...
— Infelizmente, é pré-requisito. Só recebe quem perdeu o BPC por causa do emprego formal.
Desanimada, a Tartaruga saiu andando devagar e não era por escolha. No caminho, cruzou com a Coruja Professora, sempre afiada:
— A política é inteligente no papel. Mas burocrática demais na prática. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, menos de 10% das pessoas com deficiência que poderiam receber o Auxílio-Inclusão conseguiram acessar o benefício em 2023.
A Girafa Empreendedora gritou lá de cima:
— E nas empresas, mal se cumpre a Lei de Cotas. Só 29,2% das pessoas com deficiência estão no mercado formal, segundo o IBGE!
A Formiga Trabalhadora, ofegante, comentou:
— Se o bicho pega para entrar no mercado, imagina para receber apoio?
A Capivara Jornalista chegou com a notícia do dia:
— Uma jovem com paralisia conseguiu o benefício, mas levou 11 meses para ser aprovada. Outro candidato foi barrado porque a empresa não enviou o documento correto.
A Lontra da Gestão Pública, que escutava tudo calada, por fim, falou:
— O benefício existe. Mas ele precisa ser descomplicado. A floresta não pode criar armadilhas no caminho de quem já carrega tantas trilhas difíceis.
Frases potentes da selva:
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“Não basta criar o auxílio. É preciso garantir que ele alcance quem precisa.” - Coruja
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“A floresta promete acessibilidade, mas entrega obstáculos.” - Tartaruga
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“O auxílio só aparece para quem já passou pelo labirinto do BPC.” - Capivara
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“Prometer apoio sem acesso é só maquiagem no discurso.” - Girafa
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“A trilha até o emprego é dura. Até o direito virou teste de resistência.” - Formiga
Análise final – por Antoniel Bastos, em tom de Arnaldo Jabor
Vivemos num país onde o governo cria uma ponte, mas esquece de abrir os caminhos até ela. O Auxílio-Inclusão deveria ser um incentivo. Uma mola para quem quer trabalhar e manter a dignidade.
Mas o que vemos são muros burocráticos, barreiras invisíveis, e uma selva administrativa que mais exclui do que apoia. Criaram um benefício que exige um histórico de exclusão para ser concedido. Uma ironia que só mesmo um sistema ineficiente poderia planejar.
A pessoa com deficiência continua na margem não por falta de esforço, mas por excesso de entraves.
Enquanto o benefício existir só no papel e se esconder atrás da papelada,
a inclusão continuará sendo um privilégio de poucos, e não um direito de todos.
Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida.
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