O Arco-Íris Invisível da Selva Corporativa

 



Na floresta das Oportunidades, o Leão — diretor de RH da firma “Selva S.A.” convocou uma nova rodada de contratações. Com cartazes colados nas árvores e stories gravados no cipó digital, dizia em letras garrafais:

— “Aqui valorizamos a diversidade! TODAS as cores são bem-vindas!”

Animais de todos os biomas se inscreveram. Mas foi quando chegou a Ararinha-colorida, de plumagem vibrante e identidade fluida, que os murmúrios começaram.

— “Essa aí é criativa demais pro nosso perfil técnico”, sussurrou a Onça Consultora.
— “Será que o ambiente vai se adaptar? A floresta tem suas... tradições”, disse o Jacaré do Compliance.

A Ararinha, com a cabeça erguida, abriu o bico:

— “Estou aqui pela minha competência. Mas parece que vocês só conseguem me ver pela minha cor.”

Na entrevista coletiva, o Camaleão, que não se encaixava em nenhum padrão fixo, foi direto:

— “Vocês dizem que somos livres pra ser quem somos, mas querem que a gente se camufle pra sobreviver. Isso é liberdade ou performance forçada?”

O Bicho-preguiça não-binário foi ignorado:
— “Faltou energia na sua fala”, disse o Leão, mesmo sem escutar nada.

A Coruja, mais uma vez no alto da árvore, desabafou:

— “Vocês exibem a bandeira, mas trancam a porta do galho. Diversidade virou marketing, e inclusão continua sendo um PDF esquecido.”

Frases potentes ditas pelos animais:

  • “Não adianta dizer que aceita todas as cores se só contrata quem se pinta de cinza.” Ararinha

  • “A floresta repete que somos bem-vindos, mas não oferece ninho, nem árvore, nem voz.” Camaleão

  • “A equidade não é um arco-íris na parede. É a sombra segura pra quem vive exposto ao corte.”  Coruja

Reflexão final – por Antoniel Bastos: 

Dizem que o mundo mudou. Que agora cabe todo mundo. Que as empresas são diversas, modernas, abertas. Mas e aí? Por que ainda só 1 em cada 4 pessoas LGBTQIAP+ conseguem um emprego formal? Por que pessoas trans são dispensadas antes mesmo da entrevista acabar?

A verdade, meu caro leitor, é que o discurso evoluiu mais rápido que a prática. O crachá tem o arco-íris, mas a sala continua cinza. A entrevista é neutra, mas o julgamento é afiado. A vaga é "para todes", mas a seleção é pra poucos.

Não se trata de aceitação estética. Trata-se de sobrevivência social. De equidade que derruba muros, não de diversidade decorativa que faz post bonitinho no Dia do Orgulho.

Você abre portas de verdade ou só sorri na recepção?
Você contrata pela essência ou pela moldura?

Enquanto a floresta continuar confundindo pluralidade com tolerância controlada, o arco-íris seguirá invisível e a inclusão, só um eco nas árvores.

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