Crônicas da Selva S.A - A Ilusão da Coroa: Quem Lidera Quem?

 


Na Selva S.A, um ruído diferente ecoava entre as árvores. Não era o alarde de uma caça nem o farfalhar do medo. Era convocação. Assembleia. Quando os animais se reúnem em círculo, é porque algo anda fora do eixo. E o que estava em jogo ali era a tal da liderança esse bicho cada vez mais raro, mas ainda idolatrado.

No centro da clareira, o Leão mantinha-se em sua pose clássica de rei: juba penteada, voz grave, olhar firme. Mas sob as patas, o chão já não era tão seguro.

— “Liderar não é rugir mais alto, é saber ouvir até o silêncio da formiga”, resmungou o velho Elefante, com seus passos lentos e sua memória de séculos.

A Raposa, ácida e atualizada, não perdeu tempo:

— “A liderança virou PowerPoint. Treinam-se líderes como se criassem marionetes de fala pronta. Fala-se bonito, age-se pouco.”

A Águia, que tudo via das alturas, desceu e lançou seu olhar cortante:

— “Quem não enxerga a si mesmo jamais verá o outro. Um líder cego de ego conduz a matilha direto ao abismo.”

O Macaco, sempre performático, saltou no meio da roda:

— “Todo mundo quer subir na árvore da liderança, mas poucos conhecem o peso dos galhos mais altos.”

Do fundo da clareira, a Coruja, que pouco falava, soltou um pensamento denso:

— “Líder é quem ilumina sem precisar brilhar. Quem teme ser ofuscado não lidera  apenas administra a própria insegurança.”

A Onça, com sua elegância feroz, cravou:

— “Liderança de verdade não se aprende em curso. Se constrói na dor, na escuta, no erro. É pele marcada, não crachá pendurado.”

Mas foi quando o Búfalo adentrou o círculo que o silêncio caiu como sombra pesada.

Ele não veio para falar — veio como sempre: para sustentar.

O Búfalo não ocupa espaço. Ele sustenta espaço.

Caminhou firme, seus cascos afundando na terra, os olhos tranquilos como quem já viu muito e falou pouco.

— “Ser líder é ter costas largas, não para subir em cima, mas para aguentar o peso de quem confia em você.”

Foi a única frase. Mas ela ficou no ar como trovão antes da chuva.

🐃 O Estilo de Liderança do Búfalo

Diferente dos predadores, o Búfalo não lidera pelo medo. Não se impõe, se oferece. Ele é a muralha da manada. Vai na frente quando há risco, mas recua para caminhar ao lado quando o caminho está seguro. Ele não precisa ser aclamado, porque já é seguido.

“Quem corre sozinho é rápido. Quem caminha junto é líder”, disse, em outra manhã de migração.

Seus traços de liderança:

  • Lealdade inegociável: não abandona os seus. Protege mesmo quando está cansado.

  • Força protetora: sua robustez não ameaça, acolhe.

  • Coragem emocional: permanece firme quando todos vacilam.

  • Decisão ponderada: age com precisão. Nunca por impulso.

  • Presença que educa: não ensina falando, ensina existindo.

Na selva, o Búfalo é o primeiro a se molhar e o último a descansar. Não exige nada em troca. É, por isso, respeitado até pelos predadores.

🎯 Análise de Antoniel Bastos: “Brasil, fábrica de líderes ou espetáculo de egos?”

Liderança, no Brasil, virou peça de marketing. Tem mais gente treinando líderes do que gente realmente liderando. É título de workshop, tópico de e-book, medalha de evento corporativo. Mas quando a vida cobra, cadê eles?

Nos vendem liderança como um aplicativo que se instala. Como se fosse possível baixar caráter em PDF. Como se a sabedoria fosse um efeito do slide e não da cicatriz.

Não estamos formando líderes. Estamos formando vaidosos. Gente que sobe no palco para se ouvir, não para guiar ninguém. Gente que fala de vulnerabilidade enquanto esconde sua própria sombra.

Liderar é ser búfalo. É entrar na água barrenta com os outros. É proteger sem pedir holofote. É suportar sem vitimizar-se. É inspirar confiança mesmo na tempestade.

E o mais cruel: vivemos um tempo em que quem lidera de verdade assusta, porque não joga o jogo dos egos. O líder real ameaça o líder de mentira. Por isso, muitos líderes verdadeiros são silenciados — ou ignorados.

E foi a Jaguatirica, com sua elegância discreta, que finalizou o debate da assembleia com uma frase que atravessou a mata como flecha certeira:

“Na selva, quem lidera ensina a caçar. No mundo dos humanos, liderar virou só mostrar a presa pronta.”

Fica o espelho. Fica o silêncio.
Na Selva S.A, quem realmente lidera não precisa dizer.
Basta caminhar — e os outros, naturalmente, seguirão.


Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida. 

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