Crônicas da Selva S.A: Velhos Demais pra Subir, Úteis Demais pra Cair
Na grande copa da floresta, onde os galhos altos eram disputados por jovens ansiosos e o chão já nem comportava tantos corpos excluídos, um sussurro virou grito:
“Na Selva S.A., ser experiente é pecado. E ser 60+ virou sentença.”
Foi o que disse a Tartaruga do Financeiro, com 62 anos, 40 deles vividos entre planilhas, tempestades e viradas de safra:
— “Me tratam como relíquia. Mas ainda sou quem fecha o balanço quando ninguém consegue.”
O Bicho-Pau, engenheiro de processos com 64 anos, disfarçado na multidão, ironizou:
— “Sou invisível. E eficiente. Duas qualidades que eles só valorizam... quando tudo dá errado.”
A Jaguatirica da Logística, 61 anos, gerente por experiência, e demitida sem cerimônia:
— “Me chamaram de ultrapassada. Mas até hoje é minha planilha que eles usam.”
O Jabuti Nordestino, de fala mansa e currículo extenso, abaixou o olhar:
— “Disseram que meu tempo passou. Eu respondi que meu tempo construiu esse galho que eles tão pisando agora.”
O Condor da Alta Direção, com 68 anos e passado glorioso, declarou:
— “Agora dizem que meu olhar é antigo. O problema é que o deles não enxerga o futuro só a juventude.”
Falas Potentes da Selva:
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“Aqui, sabedoria não tem espaço. Só slides com efeito.” Tartaruga do Financeiro
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“Você só vira ‘experiente’ depois que é descartável.” Bicho-Pau
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“Minha idade virou meu currículo negativo.” Jaguatirica da Logística
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“Ser velho virou justificativa pra não ouvir.” Jabuti Nordestino
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“O mercado não quer talentos. Quer juventude com filtros.” Condor da Alta Direção
Os dados que a selva não quer ver:
Segundo matéria do Correio Braziliense (maio/2024):
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86% das pessoas com mais de 60 anos dizem já ter sofrido preconceito por causa da idade no trabalho.
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Apenas 14% conseguem se recolocar no mercado formal após os 60 anos.
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Profissionais 60+ têm o dobro de tempo de desemprego em relação à média nacional.
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O etarismo é o segundo tipo de discriminação mais comum no ambiente de trabalho, atrás apenas do racismo estrutural.
Outros animais surgiram no debate:
O Galo do RH Moderno: “A gente quer inovação, sabe? Agilidade, adaptabilidade... E eles, infelizmente, já têm outro ritmo.”
A Garça Recrutadora Sênior: “Tenho mais de 60 também, mas finjo que sou mais nova. Porque se eu disser a verdade, me aposentam… da entrevista.”
O Jacaré do Jurídico: “Querem diversidade, mas não querem rugas.”
A Serpente Influencer: “O hype agora é ‘gerações conectadas’. Mas na prática, excluem quem não entende o meme do mês.”
Análise Final por Antoniel Bastos
Se Jabor lesse essa história, talvez soltasse:
“O Brasil é um país que rejuvenesce os cargos e envelhece os valores. A floresta virou mercado. O mercado virou filtro. E o filtro virou prisão cronológica.”
Estamos vivendo o que chamo de infantilização do valor profissional. O que importa não é mais o quanto você sabe mas se você cabe no template da startup.
Ser 60+ hoje é como ser personagem de museu: todos te respeitam… mas ninguém quer você no time.
👉🏻 A juventude virou critério.
👉🏻 A maturidade virou peso.
👉🏻 E a experiência virou desculpa pra desligamento.
O etarismo é o preconceito que a Selva S.A. pratica com discurso gentil. E a exclusão é sempre em tom institucional.
Só que as florestas antigas não se sustentam sem árvores de raízes profundas. E quanto mais descartamos quem já sabe o caminho, mais perdidos ficamos nas trilhas novas.
Porque o verdadeiro apagão da Selva S.A. não é de mão de obra. É de memória.
Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida.
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