Crônicas da Selva S.A - Profissionais 50+ São Mais Fiéis aos Empregos

Na clareira da floresta, o assunto da vez não era caça, nem território. Era gente que sabe mas não é chamada.

Era sobre os animais acima dos 50 anos que ainda tinham muito a entregar, mas já não eram mais "desejados" pela Selva S.A.

O Hipopótamo Cinzento, orgulhoso da sua barragem construída com suor e experiência, soltou um suspiro pesado:

— “Me disseram que eu tô velho. Mas fui eu quem impediu essa floresta de alagar mais de uma vez. Agora querem o quê? Um castor influencer?”

Do alto de uma pedra, a Tartaruga Hacker, que ainda dava aula de programação funcional para os lagartos jovens, retrucou com firmeza:

— “Lentidão é o julgamento de quem nunca tentou entender a constância. Código bem feito leva tempo.”

A Quimera, bicho raro e real: mulher, negra, nordestina e com deficiência, falou com amargura contida:

— “Não me falta currículo. Falta olhar que me veja além dos filtros. Sou invisível para os recrutadores da selva corporativa.”

Na copa das árvores, a Coruja Socióloga repetia dados que ninguém queria ouvir:

“Apenas 1 em cada 10 vagas vai para profissionais acima dos 50. Ainda assim, são os mais comprometidos e os que menos pedem para sair.”

O Tamanduá do Cerrado, com o focinho cheio de pólen e décadas de manutenção na floresta, desabafou:

— “Dizem que a geração nova não quer pegar no pesado. Eu quero. Mas agora falam que já passei da idade. Passei pra quem?”

A Onça Executiva, que perdeu o cargo por “reestruturação”, falou com a raiva elegante de quem já viu o jogo por dentro:

— “Chamam de diversidade. Mas na prática é sempre a mesma fauna nos cargos altos.”

Enquanto isso, a Arara Coach, empoleirada num galho Wi-Fi, gritava:

— “Acredita, realiza, voa!”
E o Urubu Recrutador, de terno slim e mentalidade rasa, sussurrava:

— “Essa vaga exige espírito jovem e 10 anos de experiência digital. Acima dos 50? Só se for para consultoria não remunerada.”

Frases que ecoaram pela selva:

  • “Fidelidade não vem de idade. Vem de quem já viu a floresta pegar fogo e ainda assim ficou.” - Hipopótamo Cinzento

  • “O tempo que me acusam de ter demais é o mesmo que me deu a visão que falta em muitos líderes.” - Tartaruga Hacker

  • “Dizem que sou perfil raro. Mas ser rara virou defeito no filtro do RH.” - Quimera

  • “Fui excluído do mapa da selva porque me recusei a parecer mais jovem do que sou.” - Tamanduá

  • “Diversidade de PowerPoint não sustenta floresta.” - Onça Executiva

Análise de Antoniel Bastos - “A Sabedoria que o Brasil Desperdiça”

Se Arnaldo Jabor visse isso, ele chamaria de “loucura empresarial”. Um país com milhões de profissionais qualificados, fiéis, experientes, e mesmo assim obcecado pela juventude do imediatismo.

Os dados são gritantes: profissionais 50+ são mais leais, causam menos rotatividade, contribuem com maturidade emocional e visão sistêmica. Mas ainda assim, são descartados como se a experiência tivesse prazo de validade.

Queremos diversidade… desde que ela pareça jovem, fale como jovem, poste como jovem e aceite salário de estagiário.

O apagão de mão de obra não é por falta de gente. É por excesso de cegueira.

Contratar alguém com 50+ virou exceção, quando deveria ser estratégia. Imagina esse profissional ser mulher? Negra? Do Norte? Obesa? Com deficiência? A floresta inteira fecha as portas.

Não falta vaga. Falta coragem pra reabrir a porta do tempo. E reconhecer que quem viveu mais, também sabe sustentar mais.

Na Selva S.A., quem já viu a floresta desabar, é quem mais sabe como reerguê-la.

Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida. 

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