Crônicas da Selva S.A - O Preço de Se Esconder: A Deficiência que a Selva Não Quer Ver
Era manhã de neblina na Selva S.A. Os galhos não balançavam, os e-mails não pingavam e até os algoritmos da Aranha Digital pareciam travados.
Mas lá no auditório da clareira central, a assembleia estava formada. O tema? Por que tantos animais escondem suas deficiências para conseguir um lugar na floresta corporativa.
A primeira a falar foi o Tubarão-branco da TI, que usava um fone especial no ouvido e lia com lupa os relatórios. Ela soltou, sem rodeios:
— “Escondo minha audição limitada porque sei que, se eu contar, vão me tratar como incapaz. Mesmo sendo eu quem mantém os sistemas da floresta rodando.”
Do fundo, o Bicho-Preguiça da Contabilidade tossiu com força e disse com calma:
— “Minha deficiência motora me impede de andar rápido, mas não de calcular com exatidão. Só que ninguém quer esperar meu tempo.”
A assembleia silenciou quando a Onça Surda da Comunicação levantou a pata. Seu intérprete de sinais, o Beija-flor, traduziu:
— “Se falo da minha deficiência, me excluem de reuniões. Se não falo, sou cobrada por não participar como os outros.”
O Pato Torto da Logística, com seu andar desajeitado e olhos brilhantes, completou:
— “Acharam que minha coordenação era preguiça. Só fui contratado quando deixei de mencionar minha condição.”
Frases Potentes da Selva S.A:
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“A deficiência não me limita. O olhar alheio é que me prende.” - o Tubarão-branco da TI
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“Na selva do trabalho, o que te impede não é o corpo é o preconceito invisível.” - Bicho-Preguiça da Contabilidade
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“Não me excluem pela falta que tenho, mas pelo medo que eles têm de lidar com ela.” - Onça Surda da Comunicação
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“A Empresa S.A diz ‘inclusão’, mas entrega exclusão com crachá bonito.” - Pato Torto da Logística
A verdade por trás das folhas: por que escondem?
Dados da BBC e do IBGE mostram que:
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Apenas 29,2% das pessoas com deficiência fazem parte da força de trabalho (IBGE, 2023).
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Mais da metade (55%) está na informalidade.
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A taxa de analfabetismo entre PcDs chega a 19,5%, contra 4,1% da população geral.
Muitos escondem suas deficiências por medo de rejeição, desemprego ou subempregos.
E não é paranoia: é realidade.
A Capivara Psicóloga, que coordenava o debate, soltou o dado mais duro:
— “Segundo estudo da InfoJobs, 3 em cada 5 candidatos com deficiência evitam revelar sua condição nas entrevistas, com medo de discriminação.”
E aí veio a fala que estremeceu os cipós:
“Aqui na selva, a deficiência não está no corpo. Está na estrutura.”
Análise Final – Por Antoniel Bastos
Se Jabor vivesse hoje e ouvisse isso, talvez escrevesse:
“O Brasil não discrimina apenas quem pensa diferente. Discrimina quem caminha diferente. Quem ouve diferente. Quem vive diferente. Aqui, deficiência não é condição. É sentença.”
Criamos leis, cotas, hashtags… Mas no dia a dia, nas salas envidraçadas da floresta, o olhar ainda julga.
E é por isso que tantos animais tanta gente escondem suas asas quebradas, seus ouvidos surdos, suas pernas limitadas…
Não por vergonha. Mas por sobrevivência.
E o mais cruel: muitos desses talentos precisam mentir para existir. Ocultam sua verdade para caber no molde da “normalidade” que só existe nas apresentações dos eventos corporativos de diversidade e inclusão.
A selva corporativa aplaude a inclusão no discurso, mas se assusta com o diferente na prática.
E nesse jogo, quem perde não são só os excluídos.
É toda a floresta.
Porque enquanto uns escondem suas deficiências, outros escondem sua humanidade.
Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida.
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