Crônicas da Selva S.A. - Capacidade Não Se Mede no Olhar: O Lugar da Pessoa com Deficiência na Floresta

 

Na clareira inclusiva da Selva S.A., uma roda de conversa foi convocada para discutir a empregabilidade de animais com deficiência.

O Elefante de Uma Tarefa Só, exímio organizador de troncos, iniciou o diálogo:

— “Disseram que não sou ágil o bastante para o novo sistema… Mas fui eu que levantei essa floresta enquanto ninguém sabia usar o computador.”

A Coruja com baixa visão, analista de riscos, pontuou:

— “A maioria das vagas diz ‘inclusiva’. Mas quando você entra… falta leitor de tela, acessibilidade e até iluminação adequada.”

A Tamanduá Auditiva, usuária de Libras e coordenadora de logística, comentou:

— “Fui dispensada por ‘dificuldade de comunicação’. Mas na prática, o problema era que ninguém queria aprender a escutar de forma diferente.”

O Jardineiro da Floresta da Técnica, com deficiência intelectual leve, compartilhou:

— “Dizem que a gente só quer o BPC. Mas esquecem que, para ter o BPC, a renda da floresta tem que ser quase inexistente. E mesmo assim… muitos prefeririam trabalhar.”

📊 Dados que a floresta não gosta de expor:

  • Segundo a Agência Brasília (2024), apenas 0,94% das vagas formais no Brasil são ocupadas por pessoas com deficiência — número muito abaixo do exigido pela Lei de Cotas (Lei 8.213/91).

  • A pesquisa do Grupo de Estudos sobre Deficiência da USP (2023) revelou que 47% das pessoas com deficiência ouvem frases capacitistas em processos seletivos.

  • O benefício BPC (LOAS) só pode ser concedido se a renda per capita familiar for inferior a 1/4 do salário mínimo. Ou seja, não é uma alternativa confortável, mas uma última saída.

  • Ainda de acordo com a USP, 67% das empresas não têm estruturas físicas ou digitais acessíveis.

Outros animais da roda de conversa:

O Bicho-Preguiça com mobilidade reduzida, suspirando:

— “Fui eliminado de uma vaga porque ‘não dava conta do ritmo’. Mas nunca ninguém perguntou se o ritmo era justo.”

A Onça Libras, intérprete comunitária da floresta:

— “Todos querem inclusão no papel. Mas ninguém quer bater palma em Libras.”

A Arraia Cega, especialista em leitura sonora:

— “Minha deficiência só incomoda quando a floresta precisa me adaptar. Aí dizem que é ‘complicado’.”

A Cobra com prótese, treinadora de jovens talentos:

— “Não é que a selva não nos veja. É que ela não quer se ver em nós.”

Análise Final por Antoniel Bastos

Se Jabor estivesse entre os galhos altos da Selva S.A., talvez dissesse:

“Chamam de inclusão o que, na verdade, é apenas tolerância disfarçada. E tolerância não muda estruturas. Só alivia consciências.”

A verdade é que a floresta construiu suas árvores com escadas invisíveis. E quem não sobe no tempo certo… é chamado de incapaz.

Mas ninguém pergunta quantas rampas foram negadas, quantas portas não tinham maçaneta, quantas entrevistas foram encerradas com ‘obrigado, te ligamos’.

A deficiência nunca esteve nas pessoas. Está na estrutura. Na falta de acessibilidade, na arquitetura dos processos seletivos, na linguagem das descrições de vaga, no RH que “esquece” de adaptar.

O BPC virou desculpa pra excluir. Mas poucos sabem que o BPC é negado a quem tem uma simples geladeira no cadastro. E que muitos prefeririam trabalhar, crescer e se desenvolver se a floresta realmente abrisse espaço pra isso.

👉🏻 Capacidade não tem rótulo.
👉🏻 Tem trajetória.
👉🏻 Tem entrega.
👉🏻 Tem valor.

E enquanto a selva fingir que inclusão é só cota… continuará cega, surda e insensível mesmo com todos os sentidos funcionando.

Antoniel Bastos - Presidente da Rede Incluir, jornalista (MTB 00375/RJ), escritor e Coach em Desenvolvimento Humano (Universidade Anhanguera - SP). Minha expertise se estende ao Marketing Digital (Pós-Graduação Unisignorelli - RJ) , líder de iniciativas de Diversidade e Inclusão como Diretor de RH da ACIJA - Associação Industrial e Comercial de Jacarepaguá e Gestor de Relacionamento Estratégico do Grupo Tokke - Gestão de Qualidade de Vida. 






























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