Reunião Urgente no Reino de Atlantis: Convocação do Gambá da Piscina

 No fundo abissal do lendário Reino de Atlantis — aquele que muitos juram que afundou, mas na verdade apenas cansou da bagunça — uma reunião extraordinária foi convocada. Não era comum que as criaturas mitológicas saíssem de suas conchas, covis e grutas sagradas para tratar de assuntos “mundanos”. Mas aquele dia pedia exceção.

O anfitrião? O Gambá da Piscina. Um ser mitológico injustiçado, eternamente confundido com uma ratazana de esgoto, mesmo sendo mestre em Aromaterapia Apocalíptica e doutor honoris causa em Sustentabilidade Olfativa.

— Senhores e senhoras, criaturas do imaginário coletivo, peço silêncio — disse o Gambá, enquanto o Minotauro escondia o cooler de cerveja atrás de um coqueiro e a Fênix ajustava os cílios postiços.

A pauta era clara: “O Caos no Reino de Atlantis – Reflexo do Ex-Rei ou dos Moradores Pós-Iluminados?”

O primeiro a tomar a palavra foi o Dragão Educado, com seu blazer xadrez e bafo de menta.

— Não é possível que, mesmo com tanto diploma voando por aí, a empatia tenha fugido com o bom senso! Temos doutores jogando papel no chão como se o planeta fosse um grande rascunho!

— E os grifos do subsolo? — completou a Sereia do Elevador. — Estão correndo feito Fórmula 1! O barulho ecoa até nas profundezas da minha concha.

O centauro, que havia estacionado seu cavalo em cima da faixa de pedestres do reino, tentava se justificar:

— Mas veja bem, pagamos nossos boletos. Isso não nos dá algum tipo de imunidade à crítica?

— Não, querido, isso só prova que vocês conseguem manter o luxo, mas esqueceram a gentileza na portaria — respondeu o Unicórnio de Dois Chifres, que, cansado de tanto ego, virou bicórnio só pra encarar de frente a falta de noção.

Do canto da piscina, o Gambá soltou um suspiro profundo — seguido de um aroma que abriu espaço até no multiverso.

— A pergunta que não quer calar, meus caros: será que o comportamento no reino é o reflexo da sala de estar de cada um? Ou será que só limpam quando chega visita?

— Ou quando dói no bolso — murmurou o Coelho da Páscoa, enquanto recolhia ovos de chocolate jogados na área comum com a etiqueta “recolha depois”.

Nesse momento, surgiu ele: Batman. Sim, aquele mesmo. Ninguém sabia o que ele fazia ali, mas ele tirou a máscara e revelou que era, na verdade, um síndico aposentado.

— Já enfrentei Coringa, Pinguim e até mesmo planilhas de inadimplência. Mas nada me assustou mais do que ver gente com pós-doutorado colocando toalha suada pra secar na varanda coletiva.

O silêncio reinou. Nem a Medusa teve coragem de virar o rosto. Todos sentiram o peso da verdade como se fosse um boleto vencido.

O Gambá se levantou, fez um gesto teatral e declarou:

— O verdadeiro monstro do reino não é mitológico. É o ego cotidiano. É achar que só porque se paga o condomínio, tem-se o direito de esquecer o coletivo.

E assim terminou a reunião, com cada criatura voltando para seus cantos. Mas dizem que, desde aquele dia, o chão do banheiro coletivo ficou mais limpo, o elevador mais leve e o Gambá... ah, o Gambá ganhou até uma estátua em bronze aromatizado na entrada do reino.

Moral da fábula:
Nem toda criatura fedorenta é suja. E nem todo ser humano perfumado é educado. Empatia não se ensina com pós-graduação, mas com o simples ato de não fingir que o mundo é sua suíte master.

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