A Fábula dos Espelhos Quebrados
Ou: o dia em que a alma cansou de esperar por likes
Era uma vez, num reino moderno e barulhento, um vilarejo chamado Egosfera.
Lá, todas as criaturas viviam com espelhos pendurados no pescoço.
Eles não refletiam o que se era — refletiam o que os outros queriam ver.
os sentimentos por engajamento,
e o silêncio… bom, o silêncio era bloqueado.
Saltavam como sapos felizes num pântano digital, vendendo a si mesmas em troca de uma migalha de aplauso.
Enquanto isso, no fundo da floresta invisível, morava um ser antigo, chamado Sentido.
A maioria o achava velho, sem filtro, cansativo.
Afinal, ele não gerava cliques. Só reflexões.
Depois outro.
E mais outro.
As imagens começaram a trincar, e com elas, os sorrisos falsos, as frases copiadas, as danças mecânicas.
Me trocaram por filtros.
Me trocaram por aprovação instantânea.
Mas agora, sem mim, vocês estão sozinhos em quartos iluminados por telas e escurecidos por dentro.”
Um filósofo, que já pensara por si, agora repetia frases de efeito de carrossel motivacional.
Um terapeuta, perdido, buscava um curso online sobre como gerar conexão sem olhar nos olhos.
E um antropólogo escrevia em desespero:
Mais visível — e mais vazia.
Mais digital — e menos humana.”
As danças cessaram.
As vozes baixaram.
E num raro instante, alguém chorou.
Era saudade de si mesmo.
Moral da Fábula:
Quando vivemos por aplauso, esquecemos de escutar o silêncio.
E quando tudo é espelho quebrado, ninguém mais se reconhece.
Nesse lugar, as palavras eram medidas por curtidas,
As criaturas dançavam. Sorriam. Viralizavam.
Poucos se lembravam dele.
Mas naquela manhã, algo quebrou.
Um espelho caiu.
No meio da praça digital, paralisada, uma voz antiga se ergueu — a do velho Sentido:
“Vocês me trocaram por curtidas.
Um psicólogo, que um dia fora pássaro livre, agora tremia sob os likes.
“Somos a geração mais conectada — e mais carente.
Então, a cidade inteira parou.
Não era dor de perder seguidores.
Quando vendemos demais a imagem, hipotecamos a alma.
O Sentido não morreu.
Ele só está esperando a gente desligar o celular
e voltar a ser quem era
quando ninguém estava olhando.
Comentários
Postar um comentário