Crônicas da Selva S.A - “Geração Z: Entre o Wi-Fi e a Fuga
Na floresta corporativa, os animais estavam inquietos. Do ninho dos Recursos Humanos ao tronco do CEO, o mesmo ruído ecoava:
— “Essa nova geração… não quer nada com nada!”
E então o Leão Ancião, com 68 anos e juba grisalha, rugiu com autoridade:
— “No meu tempo, a gente pedia permissão até pra espirrar. Era a geração do silêncio e da obediência.”
A Capivara Baby Boomer, ainda ativa e orgulhosa:
— “Trabalhamos por estabilidade. A floresta era dura, mas a recompensa era o respeito e o contracheque.”
A Arraia X, gerente multitarefa da folha da manhã:
— “A gente aprendeu a sobreviver entre o comando dos antigos e os gritos dos novos. Somos a geração que carrega tudo nas costas.”
O Camaleão Millennial, flexível, digital, cansado:
— “Fiz faculdade, MBA, curso de empatia, liderança e gestão de tempo... Mas ainda escuto que não estou ‘pronto’. Nunca estamos.”
E foi aí que entrou em cena o Sagui Z, celular na pata, fone no ouvido e um TikTok no histórico:
— “Não me chamem de preguiçoso. Só não quero viver pra trabalhar. Quero trabalhar pra viver e nem sempre no mesmo lugar.”
Silêncio. Alguns bufaram. Outros riram. Mas ninguém ignorou.
Dados que estremeceram os galhos da floresta:
Segundo o portal Xataka (2025), 95% dos profissionais da Geração Z admitem que “relaxam ou evitam tarefas” ao longo do expediente.
Pesquisa citada pelo G1 (2025) revela que o termo "CLT" causa medo, desconforto e até aversão entre muitos jovens.
A mesma pesquisa mostra que 42% da Geração Z deseja empreender ou viver de múltiplas fontes de renda, evitando vínculos fixos.
O Instituto Locomotiva (2024) aponta que 66% dos líderes não sabem como reter talentos jovens sem “parecer ditadores”.
Novos Personagens da Selva entram na conversa:
A Harpia RH de Elite, toda pomposa:
— “Não entendo como querem liberdade e promoção ao mesmo tempo. No meu tempo, era fila e silêncio.”
O Galo Digital de Inovação:
— “A Geração Z não quer plano de carreira. Quer plano de vida. E ninguém tá ouvindo.”
A Jiboia Neurodivergente, designer e estrategista visual:
— “Me rotularam de difícil porque não sigo o padrão. Mas sigo entregando mais do que quem só obedece.”
A Ema Estagiária Z, cabeça erguida, voz firme:
— “Não tenho medo da CLT. Tenho medo de ser engolida por um sistema que não me reconhece.”
O Morcego da Comunicação Interna, jovem, sagaz, irônico:
— “A selva quer que eu vista a camisa, mas nem perguntou se ela me serve.”
Análise por Antoniel Bastos
Se Jabor estivesse na assembleia da Selva S.A., talvez dissesse:
“O que chamamos de rebeldia da Geração Z talvez seja só um grito moderno por liberdade em meio à floresta das planilhas, metas e feedbacks forçados.”
Vivemos uma selva que ainda exige lealdade cega e presencial de uma geração que nasceu livre, conectada e questionadora. Os jovens não rejeitam o trabalho. Rejeitam o modelo. A rigidez. A cobrança sem escuta. O horário fixo para quem pensa fluido.
👉🏻 A Geração Z não tem medo do compromisso.
👉🏻 Tem pavor da repetição.
👉🏻 E desprezo pela hipocrisia institucional.
Chamam de desmotivação… o que é, na verdade, desilusão. Porque prometeram um mundo inovador. Mas entregaram um sistema obsoleto com nome em inglês.
👉🏻 A floresta precisa parar de esperar que os jovens se moldem ao passado.
👉🏻 E começar a adaptar o presente à realidade de quem já nasceu no futuro.
Porque se o Wi-Fi da Selva S.A. cair… talvez não seja culpa da Geração Z.
“Chamam de preguiça o que é, na verdade, inteligência emocional precoce. Chamam de fragilidade o que é apenas lucidez. E rotulam de rejeição ao trabalho uma recusa a viver preso num sistema que valoriza o cargo e não o ser.”
Talvez seja culpa dos galhos que não foram podados e agora impedem o sinal de chegar.
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